Óscar Lopes, um mestre
O circunstancionalismo é característica fundamental da condição humana, pelo que todos somos consequências de um jogo de circunstâncias que determinam a nossa personalidade e definem a nossa identidade.
Por isso afirmo que a humanidade começa e termina em cada um de nós, que somos consequência do património genético e das circunstâncias que caracterizam a história de vida que nos é própria.



Outros falarão dos trabalhos científicos de Óscar Lopes; outros ainda do crítico literário, ou do professor, ou do historiador de Literatura ou do cidadão. E não se queira ver nesta ordem que sugiro ao acaso qualquer hierarquia. Para mim, reservo uma coisa bem mais simples: juntar duas palavras conformes à experiência única da nossa colaboração numa editora do Porto a que ambos demos o rosto literário e gráfico porque se tornou conhecida e ainda hoje é recordada. Volto os olhos para esse tempo e comovo-me com a simplicidade com que Óscar Lopes se ocupava da leitura de um livro proposto para publicação ou de um texto publicitário, ou do pudor com que mais tarde acedeu a falar de uma exposição minha e da alegria com que leu o texto que então escreveu.
Nunca houve limites para a paixão deste homem pelo saber. E nada limitou o seu apreço pela aventura espiritual dos outros. Sempre reconheceu todo o esforço criador que tenta sobrelevar o irracionalismo da bestialidade, a fim de descobrir a grandeza que se oculta na condição humana. Nunca desistiu dessa obstinada procura. Nunca abandonou a curiosidade activa, certamente a consistência do seu carácter, da sua nobreza – e da sua luminosa humildade.

