Alexandre Teixeira Mendes
Como interpelar, portanto, peremptoriamente a opera omnia de José Saramago dentro de um círculo de problemas comuns à teologia e à filosofia? Assim sendo, valorizando o imaginário do sagrado, – sacer ou sanctus –, ou o âmbito da experiência relativa ao salvo, ao indemne, ao imune, ampliando os marcos argumentativos da ideia de deus? Que nos remete ao classicismo da tradição cristológica do dogma? Como explicitar esse movimento incessante dos discursos sobre a religião “revelada”? A partir da sua (in)congruência originária? Precisamente procedendo por si mesmo à própria inversão do “acontecimento Jesus”? Da viva vox evangeli, a palavra de deus predicada? Nesse instante de colisão narrativa mas, sim, desconstrução do monoteísmo – por ex. nas lições de “O evangelho segundo Jesus Cristo” ou “Caim” – assimilando, efectivamente, em moldes sucessivos, um sólido enraizamento (proto)abrâmico – continuamente (re)(cons)truído. Mas como, manifestamente, esta problemática da promulgação de uma fé que gravita, com o seu peso, sobre a aquisição da verdade (o que se projecta e alcança realização)?