Óscar Lopes, humanista e filólogo ensaísta criador
Humanista, linguista, e historiador da literatura, professor sapientíssimo e dedicado como poucos aos seus alunos, formador de sucessivas gerações, dentro e fora da Universidade, Óscar Lopes é ainda um crítico de grande talento porque crítico criador, admirável intérprete de obras tão ricas e complexas como as de Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, Torga, Raul Brandão e de muitos escritores da minha geração que tanto lhe ficaram a dever.
As “leituras” que Óscar Lopes fez de romances e de poemas não só os iluminam por dentro e neles detectam as estruturas menos visíveis, como ainda lhes acrescentam, por vezes, sentidos geracionais de que os próprios autores nem sempre estavam conscientes.
Profundo conhecedor da matemática e da música, Óscar Lopes, associando o espírito científico à sua capacidade de análise e à finura da escrita, ao rigor e ao poder imaginativo de um pensamento que entre nós só tem par em Eduardo Lourenço, deu-nos livros tão valiosos, para só citar alguns, como Realistas e Parnasianos, As Mãos e o Espírito, Cinco Personalidades Literárias, a sua monumental História da Literatura Portuguesa (em colaboração com António José Saraiva), Jaime Cortesão - A Obra e o Homem -, Álbum de Família – Escritores Portugueses do Século XIX, Antero de Quental – Legado de uma Utopia, Os Sinais e os Sentidos. Talvez nunca tenha escrito obra tão delicadamente pessoal, falando embora de outros, como Uma Arte de Música e Outros Ensaios. Uma verdadeira maravilha de perspicácia crítica de cultura e reflexão, literária, estética e filosófica, de sensibilidade, de beleza estilística.
Mas ficaria muito incompleto este curto testemunho, já de si tão apressado e reduzido, se não registasse aqui também as suas duas prisões políticas e o julgamento a que Óscar Lopes foi sujeito. Lutador antifascista, corajoso defensor da liberdade de pensamento e de expressão, Óscar Lopes cedo ligou a sua existência, nas fileiras do Partido Comunista, ao grande combate pelos deserdados deste mundo. Pela pena e pela acção. E continua fiel, com a lucidez de sempre e a mesma exigência crítica, aos ideais que lhe nortearam a vida.