“Resta-nos, em arte, projectar as nossas aspirações viáveis, ou concertadas, na moldura desta espécie de baixo cifrado a que não podemos escapar, e que afinal, apenas data do capitalismo inerente aos primeiros modelos de rodinhas metálicas cunhadas, há cerca de três mil anos atrás. É uma linha a entretecer-se de um modo cada vez mais denso, até ao momento em que se declara (mas se, quem?), para cada um de nós, o seu ponto final, aliás um ponto sem abcissa marcada, como o sono ou como aliás aconteceu para o nosso despertar para a vida.
E o registo colectivo, que possivelmente o continuará, não se sabe bem porquê nem como. Mas que havemos nós de fazer? Pois, - para invocar uma ideia curiosamente religiosa da nossa cultura, - pois comunguemos, e passemos a taça ao nosso vizinho, a taça que é minha e tua, que é nossa e vossa, nesta ampla roda, espero que cada vez mais interessante, e espero que cada vez mais efectivamente nossa”
(Na entrega do prémio vida literária)
Santos, José da Cruz (coord); Óscar Lopes - Um homem maior do que o seu tempo; 2007, Edição Câmara Municipal de Matosinhos (pág. 193)