Duas notas sobre Óscar Lopes
“Falei de sabedoria e sofrimento, de escrúpulo e lealdade; gostaria ainda de falar, a propósito de Óscar Lopes, de simplicidade e pudor, pois nele é o que imediatamente vem à tona. Ora a simplicidade é como a verdade: vê-se. Quanto ao pudor, aqui, será menos equívoco chamar-lhe respeito por si próprio. Um tal sentimento é, em Óscar Lopes, cultivado até ao excesso.
O seu movimento primeiro é apagar-se, tão isento ele é de narcisismo. Nunca ninguém o verá em bicos de pés para melhor se reflectir nas águas do nosso olhar. Nunca ninguém lhe ouvirá: “Reparem como eu, vejam o que eu, eu, eu, eu.” Porque ele sabe. Ele sabe que o que importa – e não só no campo da palavra – é ter em conta o outro, seja qual for a sua dimensão.
Refere Gorki, não sem espanto, que em Vladimir Ilitch [Lenine], no meio de tanta preocupação, havia ainda lugar para a bondade – permitam-me que diga o mesmo de Óscar Lopes. E também com espanto.”