A Câmara de Gaia publicou ontem no seu site um “Esclarecimento” sobre o SASU (Serviço de Atendimento de Situações Urgentes - atendimento dos utentes em situação de doença aguda não urgente) de “Soares dos Reis” que, em vez de esclarecer, acaba por aumentar as dúvidas e incertezas que rodeiam o recente encerramento daquela valência.
Afirma a Câmara que a transferência do SASU para o novo Centro de Saúde de Vilar de Andorinho, a meio de Agosto e sem qualquer informação aos utentes, será meramente “temporário” devido a “obras” que a Administração Regional de Saúde quererá fazer em “Soares dos Reis”.
Sucede porém que nem a Câmara, nem a ARSN, alguma vez informaram que o encerramento seria “temporário”: em Agosto a Câmara nada informou, e a ARSN dizia peremptoriamente que “As novas instalações da Unidade de Saúde de Vilar de Andorinho vão receber o serviço de atendimento complementar de Vila Nova de Gaia, servindo, desta forma, as populações dispersas por todas as freguesias do concelho e os dois agrupamentos de centros de saúde (ACES) – Gaia e Espinho/Gaia”, e que tal deslocalização resultava “de um trabalho de articulação, desenvolvido ao longo de vários meses, entre os ACES Gaia e Espinho/Gaia, o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, EPE (CHVNGE) e a vereação da autarquia de Gaia”, confirmando que a Câmara, além de subsidiar a Administração Central em obras que são da sua exclusiva responsabilidade, também se imiscuiu na preparação e implementação deste acto lesivo dos interesses dos munícipes.
A verdade é que este “esclarecimento” da Câmara de Gaia só agora aparece devido à luta e protestos da população e utentes, que tem vindo a crescer e se manifesta por diversas formas, nomeadamente em recolha de assinaturas contra o encerramento.
Porém, este “Esclarecimento” é absolutamente incongruente, porque não só não explica cabalmente o que se passa, como levanta novas interrogações:
Se “as instalações do SASU de Soares dos Reis entraram em obras”, como é que ninguém as vê, nem estão publicitadas?
Se a ARS-N vai fazer as obras, porque se mantém em silêncio e é a Câmara a anunciá-lo?
A Câmara afirma, e bem, que faria “pouco sentido a localização de um SASU ao lado das urgências do Hospital de Gaia” porque isso “poderia implicar a opção inevitável de recurso às urgências, criando um constrangimento pouco razoável”; mas nesse caso, porque é que também o SASU dos Carvalhos encerrou e os seus utentes foram igualmente encaminhados para o novo Centro de Saúde de Vilar de Andorinho? Vai esse encerramento ser também “temporário”?
O “esclarecimento” nada diz sobre o facto de que, para além dos SASUs, também foi deslocalizada para Vilar de Andorinho a Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de “Soares dos Reis” (10 médicos transferidos, cerca de 15 mil pessoas – o serviço que os utentes designam habitualmente por “Centro de Saúde”). E os utentes receberam cartas a anunciar que para manterem o seu “médico de família” teriam de mudar para a nova localização. Também este encerramento é “temporário”?
Estas questões carecem de explicação cabal.
O PCP, que há muito lutava pela construção do Centro de Saúde de Vilar de Andorinho e se congratulou com a sua entrada em serviço, entende que não é admissível que esse facto sirva de pretexto para colocar em causa a qualidade dos serviços já existentes ou para o seu encerramento.
Por esse motivo, há já duas semanas os Deputados pelo Distrito do Porto enviaram ao Governo uma Pergunta sobre este encerramento, ainda sem qualquer resposta, e o PCP continuará a apoiar firmemente os utentes prejudicados, que carecem de melhor qualidade de serviços de saúde, nomeadamente em termos de acessos e transportes.
Também na Autarquia os eleitos da CDU irão exigir esclarecimentos sobre a situação e o papel da autarquia nesta questão.