A Mobilidade é um elemento essencial da vida moderna nas zonas urbanas.
Gaia, cuja população (mais de 300 mil pessoas, que fazem deste o terceiro maior concelho do País em termos demográficos) reside num território que se estende ao longo de 15 km verticalmente e 17 horizontalmente situado em pleno coração da Área Metropolitana do Porto, enfrenta particulares problemas nesta matéria.
Não existe no Concelho uma verdadeira rede articulada de transportes. O Metro apenas serve parte das Freguesias de Santa Marinha e Mafamude, e o acesso a este transporte pela população das restantes freguesias é muito dificultado, e depois de se deslocarem por vários quilómetros para aceder a este transporte são confrontados com a falta de estacionamento adequado a esse fim, nomeadamente por não existir estacionamento gratuito ou de preço simbólico que possa incentivar a procura do Metro.
A essa população resta então o uso de meios de transporte pessoal ou, perante a ausência de uma resposta adequada da STCP (que apenas explora meia dúzia de carreiras), recorrer às empresas privadas que operam nas suas freguesias (geralmente ligações verticais ao Porto) e que cada vez são mais dispendiosas: um utente que percorra cerca de 17 quilómetros diariamente gastará 60 euros por mês - mais de 10% do salário mínimo - num passe que normalmente servirá numa só empresa, debatendo-se todos os dias com a má qualidade dos transportes, a falta de informação e o abuso de horários que não são cumpridos.
E porque esse passe não está associado ao sistema multimodal “Andante”, os custos disparam ainda mais.
Bilhetes: aumentos escandalosos
Tem sido argumentado que o aumento ocorrido no início do ano teria sido de 5%, mas tal fica longe da verdade, mormente quando se fala de bilhetes em “agente único”.
Um exemplo claro é a extinta empresa “Sequeira Lucas e Ventura” após a sua recente aquisição pela empresa “Espírito Santo”: registou-se um gravoso aumento no preço das viagens, que anteriormente custavam 90 cêntimos e que passaram sem qualquer aviso para 1,40€ ou 1,45€, como por exemplo:
- da Calçada à Tegopi
- da Rua do Outeiro a Vilar do Paraíso (largo da Capela de Vilar do Paraíso)
- da Travessa da Barrosa a Vilar de Paraíso (largo da Capela de Vilar do Paraíso)
- de Vilar do Paraíso à Quinta de São Caetano (largo da Capela de Vilar do Paraíso)
Quem se deslocava desde a Farmácia Matias (Oliveira do Douro) até ao “Corte Inglés” pagava 1€, e passou a pagar 1,40€. Nas carreiras Valadares/Porto ou Serzedo/Porto, no trajecto Vilar do Paraíso/Largo dos Aviadores o bilhete “Agente único” passou de 0,90€ para 1,45€
Quem se desloque a partir de Oliveira do Douro pagará agora 1,35€ até ao Corte Inglés, ou acima de 2,00€, se até junto da Câmara.
A maioria destes percursos cobre apenas duas paragens dentro da mesma freguesia, e/ou são inferiores a dois quilómetros.
Além do acréscimo desmesurado de preços verificou-se também a modificação da carreira Porto–Valadares, que deixou de servir, por exemplo, a Rua da Rasa, além de que a ligação Câmara-Valadares (que agora apenas se inicia junto ao Colégio de Gaia) passou de 0,90€ para 1,85€ (a ligação Porto-Valadares custava 1,30€).
Câmara inactiva
Questionada pela CDU sobre estas matérias, a Câmara limita-se a pronunciar a sua “profissão de fé” nas benesses do (curto) prolongamento da Linha Amarela do Metro (esquecendo a sempre adiada promessa da segunda linha) e nas alegadas (e muito duvidosas) “vantagens” do processo de municipalização da gestão da STCP, que irá implicar elevados custos para a Autarquia sem garantir uma resposta pública adequada.
E, apesar de reiteradamente solicitada desde o início do ano a fornecer cópias dos contratos de concessão das empresas privadas, continua a escusar-se a fornecer tal informação e a partilhar como decorrem ou decorreram as renegociações dos contratos com as operadoras privadas e quem foi ouvido a propósito das mesmas.
Importa estabelecer um maior rigor e controlo dos preços praticados nos autocarros e do cumprimento das obrigações das concessões no que respeita a horários, paragens, informação, qualidade e conforto, etc.
“Andante”: uma exigência e anseio das populações
O alargamento do sistema “Andante” (como o PCP propôs na Assembleia de República mas foi rejeitado por PSD, CDS e PS) ajudaria a criar mais transparência e responsabilizaria as operadoras pelo cumprimento das suas obrigações. Como essa proposta foi rejeitada, importa desenvolver soluções de bilhética mais justas e economicamente viáveis.
Mantém-se também actual a proposta da CDU de criação de uma Provedoria ou Gabinete de Atendimento dos Utentes dos Transportes Públicos de Passageiros, visando recolher, organizar e canalizar reclamações e informações e propor medidas concretas visando solucionar as dificuldades de mobilidade. Recorda-se que a Assembleia Municipal aprovou em 2015 uma Recomendação que nesse sentido apresentamos, mas desde então a Câmara nada fez para a levar à prática.
A CDU, que hoje levou a efeito uma iniciativa de contacto com as populações sob esta temática com a participação do candidato à Presidência da Câmara Mário David Soares, continuará a pugnar por uma Mobilidade ao serviço dos Gaienses e por uma rede de transportes que promova a coesão territorial concelhia e que reduza o brutal peso que actualmente constitui sobre os orçamentos familiares.
CDU/Gaia