Jorge Machado
De As intermitências da morte ao Ensaio sobre a cegueira, do Ensaio sobre a lucidez à Viagem do elefante, Caim, passando pel’A jangada de pedra, são tantas as obras que imortalizam Saramago que se torna difícil escolher uma obra de eleição.
Não conseguindo eleger uma obra e não tendo a pretensão de ser um “entendido” em Saramago, que objetivamente não sou, sei e reconheço o prazer que o Saramago me deu na leitura das suas obras, como me levaram a questionar a natureza do ser humano, a refletir sobre quem somos, sobre a vida e a morte e sobre a organização da nossa sociedade.
Saramago, admitindo que tem livros mais “fáceis” de ler que outros, além de proporcionar belos momento de leitura, obriga, como referi, a refletir. Esta é uma marca que poucos escritores
atingem e Saramago conseguiu fazer, nas obras em que o quis fazer, com extraordinária mestria.
Em tempos, como os atuais, onde a intolerância ganha terreno, importa lembrar que Saramago no seu tempo já tinha sido alvo dos intolerantes, dos que relegam a arte para o conformismo ou entretenimento. Saramago não era vazio, não era conformado, Saramago incomodava, também porque era comunista, e as suas obras não são isentas do ponto de vista político.
Mesmo depois do reconhecimento internacional, com a atribuição do prémio Nobel, Saramago continuou a ser ostracizado pelos setores mais reacionários do nosso país.
Contudo, Saramago ganhou a batalha porque conquistou leitores, ganhou adeptos, fascinou gerações.
Se calhar o facto de hoje Saramago ser leitura recomendada no ensino secundário é o maior prémio que lhe podiam atribuir. Saramago atingiu a imortalidade por via da sua brilhante
obra que é, sem margens para dúvidas, património nacional.