A privatização e desestruturação da ANA
Com efeito, toda a discussão é feita partindo do princípio de que a privatização da ANA é um facto consumado. Trata-se, como é evidente, de uma certeza que não pode deixar de ser questionada.
Primeiro, porque a ANA é uma empresa estratégica e rentável, pelo que a sua privatização não poderá deixar de ser considerada uma decisão lesiva dos interesses nacionais sob vários aspectos, incluindo os de desenvolvimento harmonioso do País e os de ordem financeira.
Depois, porque vivendo o País uma crise económica profunda, que não é dos últimos meses, antes tem origens mais remotas, não se entende que uma operação de privatização de uma empresa tão atractiva como a ANA, nas suas várias vertentes, possa encontrar o mercado que certamente teria numa outra conjuntura mais favorável.
Por aqui só se pode concluir que a discussão que tem sido lançada, infelizmente com a cumplicidade de entidades que ocupando lugares de responsabilidade pública, visa desde já fazer caminho na opinião pública de que a privatização é inevitável e, com isso, marcar posição nos benefícios que ela trará caso se venha a concretizar.
Contudo, apesar dos antecedentes, queremos acreditar que, no imediato, o Governo não se deixará submeter às pressões que se vêm verificando, sob pena de cometer um erro muito lesivo dos interesses do País e de toda esta Região.
A polémica, a ficção e o oportunismo
Por tudo isto, esta polémica que alguns têm promovido, baseada em cenários de pós-privatização, é uma ficção que só se tornará realidade se o Governo, também neste caso, deixar que os interesses privados se sobreponham ao interesse público.
Mas cabe perguntar porque é que todo este frenesim só recentemente se verifica?
Porque não aconteceu quando o Aeroporto do Porto era, jocosamente, tratado como um apeadeiro e aparece agora quando é considerado um dos melhores do Mundo dentro dos da sua dimensão?
Porque será que não se releva que esta classificação,resultante da enorme melhoria de condições de funcionalidade do Aeroporto, só foi
possível pela gestão pública e global dos aeroportos nacionais, da responsabilidade da ANA, que resultou do investimento de cerca de 400 milhões de Euros?
Porque se discute a alteração da gestão do Aeroporto adiantando argumentos como a necessidade de aumento da sua capacidade de atracção de passageiro se sempre se omite, nesta discussão, que nos últimos dois anos, isto é, entre 2006 e 2008, o Aeroporto do Porto movimentou mais 1.132.024 passageiros, isto é, teve um acréscimo de 33,3%, enquanto que todos os outros aeroportos nacionais, no seu conjunto e no mesmo período, aumentaram 1.670.475 passageiros, ou seja apenas 9%?
As razões são evidentes. O Aeroporto do Porto, depois do investimento público feito, é uma boa área de negócio com crescente clientela. Portanto, há que promover uma campanha para que alguns recebam os dividendos do investimento de todos.
Um crime económico a travar a todo o custo!
A DORP do PCP reafirma que a privatização da ANA constituirá um crime lesivo dos interesses do País e que não servirá os interesses de toda esta Região. Reafirma que o que está em causa é a obtenção de benefícios à custa de investimentos públicos que tornaram o Aeroporto num fruto apetecível.
Reafirma, ainda, que toda a polémica criada à volta desta infra-estrutura, para além da falta de razoabilidade em termos dos interesses referidos, se encontra completamente deslocada no tempo por se enquadrar num cenário que o mínimo de bom senso se recusará admitir.
Afirma, por último, o seu protesto e repúdio pelo comportamento de algumas personalidades que, desempenhando cargos públicos, deveriam pôr os interesses da Região à frente dos protagonismos individuais ou interesses de grupos.
Participaram nesta conferência de imprensa:
José Pedro Rodrigues, membro da DORP e do Comité Central do PCP
Valdemar Madureira, membro da DORP do PCP