"Um contrasenso" foi a definição de Ilda Figueiredo, deputada do PCP no Parlamento Europeu, ao referir-se à possibilidade de nada ser feito para salvar a Qimonda, empresa de produção de semi condutores, que emprega cerca de 1700 trabalhadores em Portugal. A dirigente do PCP lembrou o recente investimento da União Europeia em investigação na área da nano tecnologia e afirmou que deixar desaparecer a Qimonda contraria o caminho até aqui seguido na Europa. A Eurodeputada comunista esteve presente na Sessão de Solidariedade com os Trabalhadores da Qimonda, realizada no passado domingo, 8 de Março, no Circulo Católico de Operários de Vila do Conde, iniciativa da Direcção Regional do Porto do PCP.
Bruno Fonseca, militante comunista, trabalhador e delegado sindical do STIENC na Qimonda, foi o primeiro a dirigir-se aos cerca de uma centena de presentes naquele auditório, tendo descrito sinteticamente o percurso daquela empresa em Portugal, e referindo o recebimento de muitos milhões de euros de dinheiros públicos, como incentivo ao longo dos últimos anos, lembrando a entrega, no ano de 2008, de 70 milhões de euros àquela empresa, uma semana antes do despedimento de cerca de 70 trabalhadores, por estes terem legitimamente recusado o horário das 12 horas diárias que a empresa impôs.
Em relação à situação actual, Bruno Fonseca refere que aquela empresa, "considerada como um modelo de boa gestão pelo governo PS/Sócrates, tem 80% dos trabalhadores com vínculos laborais precários, apesar da maioria serem trabalhadores altamente qualificados", sendo que a média de idades daqueles trabalhadores ascende a 26 anos. Ainda assim, para aquele militante comunista, os trabalhadores da Qimonda já demonstraram "a disponibilidade e capacidade de organização para a luta", porque "além da luta contra as 12 horas de trabalho, cerca de 400 trabalhadores fizeram greve no dia 5 de Junho de 2008", participando naquela "importante jornada de luta da CGTP-IN".
Na intervenção que encerrou aquela sessão, Ilda Figueiredo, referiu-se à Qimonda como sendo uma unidade de produção "de importância estratégica" na área da tecnologia na Europa e lembrou que o argumento muitas vezes utilizado em relação aos preços mais baixos de produtos similares noutros continentes, só se verifica porque nesses países a "produção de tecnologia é altamente subsidiada" ao contrário do verificado na Europa. "Esses fortes subsídios à produção" noutros continentes, são exactamente "para manter o domínio tecnológico", referiu a dirigente comunista, tornando evidente que "está em causa uma das áreas tecnológicas estratégicas" para a Europa, que, segundo Ilda Figueiredo, corre o risco de ficar "tecnologicamente dependente" se se verificar o desaparecimento da Qimonda.
Essa importância estratégica da Qimonda, relembrou aquela dirigente, foi já reconhecida pela quase totalidade dos partidos representado no Parlamento Europeu, numa iniciativa dos deputados do PCP, em que as forças políticas europeias presentes subscreveram uma carta dirigida à Chanceler Alemã e ao Primeiro Ministro Português, onde se reclamam a tomadas de medidas que impeçam o desaparecimento da Qimonda na União Europeia.
Lembrou ainda que, dos 24 deputados portugueses no Parlamento Europeu, "foram os comunistas que tomaram a iniciativa". Para aquela deputada comunista este facto demonstra claramente a "importância de ter deputados comunistas no Parlamento Europeu" para defender os interesses de Portugal, importância agora acrescida pela retirada de deputados ao nosso país, à custa das "cedências de PS, PSD e CDS".
Da parte do PCP, Ilda Figueiredo garantiu que irão "continuar a fazer tudo o que seja possível para a viabilização da Qimonda e a manutenção dos postos de trabalho".