“Em 1934 fez-se no Porto uma exposição colonial. Essa exposição colonial era para coroar aquilo que se chamava o Acto Adicional ou Acto Colonial, que era um documento adicional à Constituição e que criou um acto repugnante – nas colónias formalizava uma diferenciação entre as pessoas que falavam português e as pessoas que não falavam português. Bom, mas vamos à Exposição Colonial.
Realizou-se no Palácio de Cristal, naquela altura assim chamado e ainda hoje tradicionalmente assim se chama, e o que acontece é que em diversos sectores do jardim do Palácio havia cubatas e nalguns casos até casas em cima de árvores, onde moravam, por exemplo, timorenses. Eu lembro-me disso. E as pessoas passavam por ali como se fossem ao jardim zoológico, examinar bichos de uma outra espécie. As pessoas daquele tempo viam isso com naturalidade. Eu, não sei porquê, senti-me ofendido, humilhado humanamente com aquilo.”
Santos, José da Cruz (coord); Óscar Lopes - Um homem maior do que o seu tempo; 2007, Edição Câmara Municipal de Matosinhos (pág. 40, 41)
