
A esta acção de luta juntaram-se muitos manifestantes de Espinho, que depois de verem encerradas as urgências do seu Hospital e serem reencaminhados para Gaia, são agora obrigados a dirigirem-se ao Hospital de S. João ou Sto. António, no Porto.
Já esta marcha estava amplamente divulgada e a indignação em crescendo, quando o Governo anunciou que não iria desqualificar as urgências do Centro Hospitalar Gaia/Espinho. Mas o Governo não diz tudo, porque não interessa, e acaba por ocultar que o Centro Hospitalar de Gaia/Espinho é formalmente um serviço de urgência polivalente, mas na prática, fruto dos serviços e valências que dispõe, funciona como serviço de urgência médico-cirúrgica, como reconhece o prórpio relatório da Comissão de Reavaliação da Rede Nacional de Emergência/Urgência.
Diz o Ministério que não vai investir e repôr serviços nesta urgência de forma a que funcione com base nas necessidades das populações (reconhecidas quando se promete não despromover formalmente o nível de urgência no papel). No fundo, diz o Ministério que os serviços de urgência deste hospital se mantêm como polivalentes (no papel), mas com serviços e valências de uma unidade médico-cirúrgica (na práctica).
As urgências do Centro Hospitalar Gaia/Espinho sofreram, nos últimos anos, por acção de PS, PSD e CDS, reduções de valências.
É num quadro de escolha de classe que privilegiam o capital e os grandes grupos económicos que se inserem as políticas dos últimos anos para o Serviço Nacional de Saúde: por uma lado crescem, como cogumelos, hospitais e unidades de saúde privadas, seguros de saúde, laboratórios clínicos privados, a quem são dadas facilidades e ajudas; por outro aumenta-se de forma desmesurada e assassina os custos suportados pelos utentes na saúde pública - taxas moderadoras, preços dos medicamentos, diminuição de comparticipações.
Ao mesmo tempo encerram-se serviços e unidades, e diminui-se o periodo de prestações de serviços. Muitas são as famílias que são obrigadas a escolher entre a alimentação e a ida ao hospital, entre a renda e/ou a prestação ao banco e o medicamento.
Nesta escolha de classe de quem pratica políticas que agridem os direitos dos trabalhadores e do povo, fica bem claro um cenário: quem tem dinheiro tem acesso a uma saúde de qualidade, a qualquer hora e em qualquer lugar; quem não tem, sujeita-se ao que resta, ao que este Governo entender como 'necessário', à caridade e é ainda presenteado com serviços mínimos.
A lógica economicista na qual assentam as medidas propostas cria tremendas injustiças e agrava profundamente as diferenças e desigualdades sociais já existentes.
Sendo um ataque desenvolvido contra os utentes e os profissionais de saúde, é também uma investida que visa abrir espaços a investimentos privados, ao mesmo tempo que tenta abalar o Serviço Nacional de Saúde do 25 de Abril, o mesmo que garante o acesso aos cuidados primários, urgentes e emergentes, a todos, independentemente da sua origem e situação económica e social.
A saúde não é, não pode ser um negócio!
O tão prometido e eternamente adiado novo Hospital de Gaia não sai do papel. É, aparentemente, uma necessidade reconhecida por todos. Mas nem todos fazem o necessário para que a sua construção passe a ser uma realidade.
Esta é uma necessidade certamente sentida pelos doentes que se vão amontoando nos corredores do serviço de urgência do Centro Hospitalar de Gaia/Espinho, sujeitos a contaminações e a condições degradantes de atendimento. Mas os jogos de poder continuam, e na defesa de outros interesses, PS, PSD e CDS vão mudando de opinião e trocando responsabilidades conforme estão no governo ou na oposição.
A Câmara Municipal de Gaia continua a fantasiar com projectos faraónicos de pontes, mas o pouco que disse sobre o Centro Hospitalar de Gaia não consegue abafar a clara inacção de um Executivo comprometido com a política de quem não 'belisca' o capital, mesmo que tenha que condenar à miséria os trabalhadores, as populações, o povo.
Existem em Gaia casos denunciados de unidades de saúde primária em risco de encerrar ou de diminuir o horário de funcionamento. Aconteceu às Unidades de Saúde Familiar que não efectuaram 50% das consultas protocoladas com o ministério. Por exemplo, no Centro de Saúde de Arcozelo, que encerra agora às 18.00h e que empurra para o Centro de Saúde de Espinho (a funcionar até às 22.00h) utentes das freguesias de Arcozelo, Gulpilhares e S. Félix da Marinha.
A gravidade da realidade presente, a resistência e a determinação dos trabalhadores e do povo, a firmeza e a coerência do PCP continuará a alimentar uma luta justa, que defende um direito constitucionalmente consagrado: o Direito à Saúde.
O Grupo Parlamentar do PCP apresentará na Assembleia da República projectos de recomendação sobre a construção do novo Centro Hospitalar de Gaia/Espinho, bem como sobre a reabertura dos serviços e valências nas urgências para que estas sejam na prática e formalmente serviços de urgência polivlentes.
Sem outro assunto,
Vila Nova de Gaia, 28 de Julho de 2012
a Comissão Concelhia de Vila Nova de Gaia do PCP