Manifesto por um novo rumo! Intelectuais contra a resignação!

antonio_carmoA crise não é uma fatalidade. Tem causas, responsáveis, soluções. Resulta, em primeira instância, de um sistema económico e social iníquo, gerador de crises cíclicas que só a superação do próprio sistema pode erradicar e não as panaceias do momento, ou os devastadores conflitos bélicos que, ontem como hoje, à escala planetária ou de âmbito regional, servem por vezes de saída para as crises económicas e sociais.

No quadro internacional, é, porém, sabido que a responsabilidade pela actual situação decorre da actuação predadora, de procura do lucro a qualquer preço, que tem sido a pedra de toque da alta finança, da banca internacional, dos grandes grupos económicos (os sacrossantos «mercados», sem rosto nem escrutínio, cujo nervosismo faz tremer os países) e de todos os que, ao nível dos poderes executivos, continuam a representar os seus interesses: os directórios políticos nacionais e europeus. Mas, em todos os canais de televisão e em muita imprensa escrita, o pensamento dominante – por acção de comentadores de serviço e das chefias editoriais – visa persuadir a opinião pública de que são outras as causas da crise. Uma crise que apenas pode ser debelada por soluções drásticas cujas vítimas «inevitáveis» são as de sempre: trabalhadores da função pública e do sector privado, desempregados, reformados e pensionistas, além de uma juventude sem trabalho nem horizontes que, dia após dia, vê hipotecado o seu futuro. A todos estes são exigidos sacrifícios, que se anunciam prolongados, e de todos se espera a resignação face a uma crise de que não são responsáveis.
As políticas prosseguidas pelas forças partidárias que, há 34 anos, governam Portugal contribuíram activamente, sobretudo na última década, para que a crise tenha atingido no país as proporções que alcançou e cujos resultados estão à vista: um nível de desigualdade social sem precedentes, pobreza e desemprego galopantes, precariedade laboral, devastação ou atrofia do aparelho produtivo e assimetrias regionais de que o Porto é um gritante exemplo. Por outro lado, a privatização sem freio das principais e mais lucrativas empresas e serviços públicos, a juntar aos sucessivos ataques à Educação, à Saúde e à Segurança Social públicas, bem como aos salários e direitos de quem trabalha, põem em causa conquistas que resultaram de um longo e duro processo histórico de progresso civilizacional. Esta linha de acção política configura uma demissão crescente, por parte de um Estado que é sustentado pelos impostos dos portugueses, do que devem ser as suas obrigações sociais básicas.
As «contas» do famigerado Plano de Estabilidade e Crescimento que diariamente nos querem vender podem, e devem, ser feitas de outro modo e apontar num sentido inverso: penalizando privilégios e interesses de ricos e poderosos, combatendo a corrupção e a fuga ao fisco, apoiando a produção nacional, aproveitando os recursos do país e protegendo o emprego. Só assim há saída para a crise – e não dando rédea livre à exploração, à «flexibilização» das leis laborais, e sacrificando, ainda mais, quem trabalha e produz riqueza.

Os artistas, intelectuais e quadros técnicos subscritores deste Manifesto não se resignam e rejeitam com vigor o «pensamento único» dos aparelhos de propaganda do governo e do chamado Bloco Central de interesses que objectivamente o sustentam, com a conivência da Presidência da República; rejeitam as simplificações demagógicas dos pretensos fazedores de opinião e proclamam a necessidade de soluções efectivas para a crise, através de um novo rumo político que só a firmeza e tenacidade da luta de quem trabalha lograrão impor.


Primeiros subscritores:

Acácio Carvalho artista plástico · Alcino Soutinho arquitecto · Alexandre Vasconcelos arquitecto · Alfredo Maia jornalista · Álvaro Siza Vieira arquitecto · Amândio Secca engenheiro · Andreia Soutinho arquitecta · Anthero Monteiro escritor · António Fernando pintor · António Graça médico · António Macedo Varela advogado · António Souto professor · Armando Alves artista plástico · Arnaldo Mesquita advogado · Augusto Baptista fotojornalista · Bernardo Vilas Boas médico · Cassiano Abreu Lima médico · Cecília Cavaca arquitecta · César Príncipe jornalista, escritor · Claudino Cardoso docente do ensino superior · Conceição Bacelar médica · José da Cruz Santos editor · Emílio Remelhe artista plástico e escritor · Filipe Pires astrónomo · Francisco Duarte Mangas escritor e jornalista · Gabriela Marques lic. História da Arte · Guilhermino Monteiro professor e músico · Honório Novo engenheiro · Ilda Figueiredo economista · Inês Oliveira ilustradora e escritora · Isabel Cabral artista plástico · Jaime Toga membro da Comissão Política do PCP · João Manuel Ribeiro escritor e editor · João Viana Jorge engenheiro · Jorge Araújo editor · Jorge Machado jurista · Jorge Sarabando publicista · José António Gomes escritor, docente do ensino superior · José Caldas encenador · José Luís Borges Coelho maestro · José Pedro Rodrigues lic.Comunicação Social · José Rodrigues escultor · José Rui Ferreira professor · José Soares Martins docente do ensino superior · José Viale Moutinho escritor · Júlia Pintão artista plástica · Laura Soutinho galerista · Luís Mendonça (Gémeo Luís) ilustrador, docente do ensino superior · Manuel Faria de Almeida economista · Manuel Loff docente do ensino superior · Manuela Abreu Lima galerista · Manuela Bronze artista plástica e professora · Mário David Soares professor · Matilde Bento professora· Mário Lopes médico · Merlinde Madureira médica · Nelma Moreira docente do ensino superior · Nelson Amador tradutor · Nuno Higino escritor e professor · Óscar Lopes escritor · Pedro Carvalho economista · Roberto Machado artista plástico · Rodrigo Cabral artista plástico · Rogério Reis docente do ensino superior · Rui Pereira jornalista · Rui Sá engenheiro · Rui Vaz Pinto economista · Ruth Rodrigues professora · Sérgio Vinagre médico · Sónia Duarte professora · Valdemar Madureira economista · Vergílio Alberto Vieira escritor

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