Intervenção de Vítor Ranita, mandatário distrital da CDU, na apresentação da lista de candidatos
A partir de hoje, espera-nos o trabalho que, verdadeiramente, será decisivo: a tarefa de levar a nossa mensagem a todos os eleitores; o esforço de fazer chegar a cada lar o nosso apelo à ruptura com a continuação da actual política de desastre económico-social – uma política que, na versão propagandística e mistificadora de José Sócrates, é de “esquerda”.
Que Sócrates use tal despudor político não admirará a ninguém. Aliás, tal fantasia oratória confirma a sua utilidade na realização dos objectivos que mais interessam ao Capital.
Mas, também Manuel Alegre aparece a defender a tese de que não há verdadeira alternativa de esquerda sem o envolvimento da direcção deste PS, chefiada por José Sócrates.
Será esta afirmação sinal de uma preocupante falta de fé na capacidade de discernimento e de decisão própria dos nossos concidadãos eleitores, ou um caso de mera cegueira político-ideológica?
Para esclarecer a dúvida atentemos no facto de que, depois de Mário Soares ter metido o socialismo na gaveta, Sócrates parece agora ter usado uma caixa-forte para lá esconder os ideais de Abril.
Por dever de ofício – e uma única vez por ano – fala publicamente da Revolução dos Cravos. No resto dos 365 dias do ano, ele comporta-se como agente principal da negação viva das esperanças de Abril.
E, será que se lhe conhece um passo mínimo para retirar do limbo político a obra e a memória dos capitães de Abril?
Definir como de esquerda uma política orientada por Merkle, decidida pelo poder hegemónico de 3 ou 4 bancos estrangeiros que integram o Banco Central Europeu; uma política que tem na origem os problemas provocados pela aceitação da agiotagem dos especuladores financeiros e que é pressionada pelos lucros obscenos do grande capital nacional – chamar a isto uma política de esquerda – mais do que uma sem vergonhice, é uma ofensa à inteligência média dos portugueses que não abdicam de pensar.
Agora, todos os portuenses que sentem diariamente atraiçoadas as promessas trazidas por Abril têm uma possibilidade de reafirmar a exigência de que elas passem a ser respeitadas.
Basta que votem na ruptura com a actual política.
Basta que, por uma vez, dêem o seu voto à lista da CDU.
Mas, se formos além das considerações ideológicas, se nos ficarmos pelos problemas concretos enfrentados pela população que protesta e luta nas empresas, nos centros de saúde e nas escolas, nas SCUTs e nos transportes, nos portos e nos campos ou nos espaços de docência, de investigação e cultura – em todos estes ambientes podemos levantar a questão de saber se será útil aos anteriores votantes do PS, do PSD e do CDS continuarem a votar nos responsáveis pela política que os insatisfaz e prejudica.
Temos que ir tão longe quanto pudermos no esclarecimento das dúvidas que nos apareçam sobre as nossas propostas políticas. Mas temos que deixar bem claro a todos que os políticos não são todos iguais. Que não fazemos promessas para não cumprir. Que temos um passado e um presente de luta, bem conhecidos, em defesa das classes e camadas laboriosas. Que nos batemos diariamente ao lado de todos quantos exigem o seu direito ao trabalho, de todos quantos se batem por um emprego estável e com direitos, por uma remuneração ou uma pensão que chegue para pagar as despesas do lar, a alimentação da família, os encargos com a casa e os cuidados de saúde.
Queremos uma democracia a tempo inteiro, que preencha todos aspectos da vida em sociedade e que não seja obrigada a ficar à porta dos locais de trabalho.
A nossa lista de candidatos no círculo eleitoral do Porto tem todas as condições para obter o reforço da influência e da expressão eleitoral da CDU e, assim, contribuir para a construção no país de uma linha de orientação política diferente.
Dos candidatos efectivos que a integram, cerca de 1/3 têm 35 anos de idade ou menos e, aproximadamente, metade são mulheres. Fazem parte da lista operários, empregados, professores, médicos, escritores, historiadores, engenheiros, advogados, economistas, outros licenciados, trabalhadores-estudantes, activistas de movimentos sociais, activistas e dirigentes sindicais, e responsáveis nacionais de associações de doentes sinistrado do trabalho.
Vários destes candidatos são, simultaneamente, eleitos em Juntas de Freguesia, Assembleias Municipais, Executivos Camarários e na Assembleia da República. Na lista há uma maioria de candidatos membros do PCP, membros do Partido Ecologista Os Verdes e da Intervenção Democrática, mas também existem outros candidatos que a integram como independentes.
Exemplos desta caracterização genérica podem ser alguns dos primeiros candidatos:
Jaime Toga, membro da Comissão Política do PCP e responsável da Organização Regional do Porto;
Manuela Bronze, artista plástica, docente do ensino superior e independente;
Tiago Oliveira, metalúrgico, dirigente da Interjovem;
Márcia Oliveira, advogada, membro do Cons. Nac.do MDM e eleita da Assembleia Municipal da Maia;
João Torres, coordenador da União dos Sindicatos do Porto e da executiva da CGTP;
Maria João Pacheco, engenheira, do Partido Ecologista Os Verdes;
Lurdes Monteiro, de Amarante, dirigente sindical e auxiliar de educação;
Rui Sá, engenheiro e vereador da Câmara Municipal do Porto;
Manuel Loff, historiador, professor universitário e independente;
Paula Batista, professora, activista sindical e eleita na Ass. Municipal de Gaia;
Jorge Machado, jurista, e deputado na Assembleia da República; e
Honório Novo, engenheiro e deputado na Assembleia da República.
Apoiado numa correlação internacional de forças que lhe é favorável, o poder económico, financeiro e político que domina os órgãos de comunicação social tem-se esforçado, ano após ano, por construir a ideia de que o PCP, a CDU, os seus aliados, amigos e apoiantes não contam para a determinação do futuro de Portugal e dos Portugueses.
A verdade, porém, é que, se o Governo se demitiu, não foi por gosto próprio, nem foi porque os seus tutores da grande finança o quisessem, ou porque lhe faltasse a cooperação política do PSD e CDS.
O 1º. Ministro demitiu-se porque as manifestações de descontentamento popular se intensificaram de tal modo que forçaram o PSD e o CDS na Assembleia da República a votar contra a política que suportaram e defendem.
E, a integrar esse crescente descontentamento social, a organizar a luta dos trabalhadores, a participar nas movimentações da juventude e dos sindicatos, a dinamizar o protesto popular contra a redução do poder de compra dos salários e pensões, contra as portagens nas SCUTs, e pela defesa do SNS e da cobertura nacional e qualidade do ensino na Escola Pública – em todas estas movimentações democráticas e sociais – lá estiveram, estão, e continuarão a estar, o PCP, os seus aliados na CDU, os seus militantes e simpatizantes, ombro a ombro com quantos queiram lutar por uma sociedade mais justa, num país soberano, com uma democracia que respeite Abril.
Neste período, vamos dar continuidade a essa luta, tentando ganhar mais votos para as nossas propostas de uma política diferente.
As ideias pessoais que vos exprimi, conjugadas com o convite que me foi dirigido pelo meu partido, são também as razões por que aceitei ser mandatário político da lista que vos foi apresentada.
Sabemos que o resultado do jogo que os candidatos e activistas da CDU vão travar não depende apenas de nós. Mas também acreditamos que temos boas condições para conseguir o reforço da influência eleitoral da CDU.
Para isso, teremos de transformar os nossos desejos e convicções em trabalho intenso de esclarecimento e mobilização.
É o que faremos, até 5 de Junho.
Vítor Ranita