Concretizou-se o que se temia
A vinda do Ministro das Obras Públicas ao Porto para uma reunião com a Junta Metropolitana veio confirmar que o projecto de expansão do Metro nesta região é mais um dos instrumentos da discriminação do distrito do Porto e desta população, que está a sofrer, em termos económicos e sociais, as consequências graves da política que vem sendo desenvolvida.
Para o actual Governo não interessam os compromissos outrora assumidos. Tal termo não faz parte da sua norma de conduta. Para este Governo é secundário o que foi decidido na Assembleia da República em 1999, na altura o Governo era do Partido Socialista e dele fazia parte o actual primeiro-ministro, como é secundário o memorando assinado em Maio do ano passado, numa cerimónia faustosa, onde só faltou o fogo de artifício, pelo Ministro das Obras Públicas e pelo Presidente da JMP, com o beneplácito do Eng.º Sócrates.Denunciamo-lo na altura e a vida veio mostrar que tínhamos razão.
Esse protocolo de entendimento significou a capitulação da JMP perante os propósitos centralizadores do Governo, a abdicação das suas competências de decisão na administração da empresa Metro.
Por isso, sendo legítimos e compreensíveis os protestos do Presidente da JMP, Rui Rio, seria também adequado que este e os restantes membros da JMP reconhecessem que em Maio de 2007 tiveram um enorme erro de cálculo que se traduziu em enormes prejuízos como temos vindo a assistir. Puseram-se de cócoras, como então dissemos, e os resultados estão à vista. Rui Rio e restantes membros da JMP são
co-responsáveis da lamentável situação que a expansão do Metro está a viver.
Hoje, este problema essencial para esta região, designadamente para a sua área metropolitana, é tratado com sobranceria e desprezo pelo Governo. Com efeito, o Ministro das Obras Públicas não tem pejo em dizer que a solução encontrada é “aquilo que, no nosso entender, melhor serve a AMP”. A JMP deveria meditar sobre esta afirmação, inequivocamente centralista e prepotente, característica de quem se julga dono da verdade mesmo que esteja longe da realidade e das aspirações da população.
Agora, volta-se a esquecer os prazos que tinham sido estabelecidos antes, para se definirem novas metas. Tudo vai sendo adiado.
Trofa e Maia
A população ficou sem o comboio que ligava à Trofa/Maia/Matosinhos/Porto-Trindade em 2002 para receber o Metro a curto prazo. Agora o Governo propõe a chegada do Metro em 2012.
Gondomar
É o concelho da AMP cujos movimentos pendulares para o Porto são mais demorados devido à falta de qualidade dos transportes e à grande procura (mais de metade da população activa trabalha fora do concelho). O Governo propõe que as freguesias urbanas pior servidas de transportes públicas (Valbom e S. Cosme) recebam o Metro apenas em 2018.
Vila Nova de Gaia
O Governo reconhece a prioridade de constução da linha até Vila D’Este mas aponta a sua conclusão para 2022. A ligação a Laborim, que José Sócrates prometeu a sua construção imediata, acaba adiada para 2012.
Porto
A linha da Boavista, que deveria começar este ano, segundo o memorando de 2007, será adiada para nova discussão daqui a 20 anos.
Matosinhos
Sabendo-se da sobrecarga de tráfego no percurso Senhora da Hora/Trindade e sendo consensual a urgência de construção de alternativas, o Governo atira a linha de S. Mamede de Infesta para 2014.
Agora, quando não estão cumpridas as fases aprovadas, aponta-se para uma terceira fase com um horizonte distante que quase apetecer dizer que faz parte da “terra do nunca”. Invocam-se estudos que ninguém conhece para alterar decisões já tomadas.
É sempre a sina deste projecto, a necessidade de estudos, evidentemente necessários, mas de mais e mais estudos, sempre com a consequência do adiamento ou da inviabilização do que já havia sido decidido. Numa posição de autentico servilismo e ausência de vontade e opinião próprias vêm alguns membros da JMP manifestar o seu apoio a esta posição do Governo procurando garantir o desempenho dos seus actuais cargos mesmo em contradição com o exercício dos seus lugares de dirigentes da JMP e dos interesse das populações que deveriam
defender.
A situação que se vive é grave. A honra deste distrito e da sua população foi seriamente ofendida. O Metro não pode ser um brinquedo nas mãos de um Governo que diz e desdiz, nem mais um meio de discriminação de quem há muito vem a ser discriminado.
Apenas queremos ser tratados como cidadãos de um País que deve ser coeso em termos de desenvolvimento económico e social e não sucessivamente discriminados. Reclamamos que a Assembleia Metropolitana do Porto, envolvendo as várias forças políticas, reúna para discutir toda esta situação e o PCP vai solicitar a presença imediata do Ministro na Assembleia da República para prestar esclarecimentos.
Apelamos à indignação e ao protesto de todos os órgãos autárquicos, de todas as associações e instituições sociais da região.
É preciso dizer Basta! a este comportamento arrogante e provocatório do Governo!
2 de Outubro de 2008
DORP/PCP