"Melhores e piores" Hospitais, uma análise pouco séria

Recentemente foram tornadas públicas as contas do 1º trimestre de 2007 dos Hospitais Entidades Publicas Empresariais (EPEs), entre os quais se destacava na região do Grande Porto, dos 6 existentes, os “lucros financeiros” de 3, o S. João, o IPO e o Vale de Sousa.
Estes resultados merecem da DORP do PCP, os seguintes comentários

O SNS, deve ser avaliado em ganhos em saúde e não em resultados financeiros “positivos” ou “negativos”, significando que nem sempre os “melhores” são os que dão lucro, nem os “piores” os que dão prejuízos.

A DORP do PCP tem consciência da necessidade de melhorar aspectos de gestão das Instituições de Saúde, travar uma luta enérgica contra os desperdícios, rentabilizar e melhorar os meios humanos e equipamentos existentes, por forma a dar resposta às necessidade em tempo útil, tanto em qualidade como em quantidade, aos doentes /utentes.

Os chamados “lucros financeiros” em muito advêm:

- das penalizações que os utentes sofrem aquando do acesso a estas Instituições de saúde, através de taxas moderadoras, no rateamento de alguns fármacos, (geralmente mais caros e eficazes para o tratamento dos doentes), ao mesmo tempo que é frequente estes hospitais não terem medicamentos que os doentes necessitam, sendo passadas receitas para as famílias os adquirirem no exterior e à sua custa.

- de uma politica de redução do número de camas essencialmente destinadas a doentes crónicos (exemplo das medicinas no S. João) tendo por fundo uma visão economicista dado estes doentes serem considerados financeiramente “mais caros”.

- à recorrência mais frequente às altas precoces, levando em várias situações a novos reinternamentos com consequências nefastas para os doentes, mas que para a Instituição traz ganhos acrescidos dado o financiamento ser feito por acto médico.

A cegueira do lucro financeiro por parte do governo/EPEs é tal que chega ao cúmulo de uma Instituição com a especificidade do IPO do Porto ter implementado o pagamento do estacionamento aos doentes que vão fazer os tratamentos que geralmente são prolongados e aos Bombeiros. Se isto não é desumanização, o que será?

Os chamados “lucros financeiros” assentam também na generalização do agravamento das condições de trabalho e na remuneração dos trabalhadores destas Instituições EPEs, com o recurso abusivo aos vínculos precários, não pagamento de trabalho extraordinário, aumento das cargas horárias (chega-se às 12 e 16 horas durante dias seguidos), de milhares de folgas em atraso, não admissão de profissionais e grande rotatividade destes, criando instabilidade nos serviços, com efeitos nefastos na qualidade e na quantidade dos cuidados que se prestam aos doentes

Afunilar a análise e apreciação da prestação destas Unidades de Saúde aos chamados “lucros financeiros”, é pouco sério e pretende escamotear a responsabilidade dos Partidos da direita e do PS, que governam o país e a saúde há mais de 30 anos, que nomeiam os gestores e directores hospitalares por critérios da sua confiança politica. Um governo que se vangloria de que tem lucro nas áreas da saúde, está desfocado da sua missão.

O PCP continuará a lutar para que às populações seja garantido o acesso aos cuidados de saúde, em todos os seus níveis, com dignidade, qualidade e para que aos profissionais de saúde sejam dados melhores condições de trabalho e mais direitos, de serem respeitados e dignificados no exercício das suas funções e desta forma se sentirem mais motivados para melhorarem cada vez mais o seu desempenho, no quadro de um serviço Nacional de Saúde Universal, Geral e Gratuito

Porto, 3 de Setembro de 2007

A DORP do PCP