Intervenção de Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP
Comício no Porto
Camaradas e amigos,
Uma calorosa saudação a todos vós e aos nossos aliados do Partido Ecologista “Os Verdes” e da Associação Intervenção Democrática; aos trabalhadores e ao povo do Distrito do Porto; a todos os democratas e patriotas que estão empenhados na construção de um grande resultado da CDU no próximo dia 10 de Março a todos os que anseiam uma vida melhor.
Iniciamos hoje, com este magnífico comício, com esta extraordinária manifestação de força e de compromisso, com os nossos de sempre- os trabalhadores e o povo- formalmente, o período de campanha eleitoral.
Formalmente, porque todos os que aqui estão e muitos milhares de activistas da CDU, por todo o País, há muito tempo que intensificaram o que fazemos todos os dias: ouvir, falar, esclarecer e mobilizar para o voto na CDU.
Iniciamos hoje uma nova etapa nesta batalha, mas não esquecemos tudo o que se viu, ouviu e leu nas últimas semanas. Esses debates televisivos, marcados muitas vezes pela dualidade de critérios e por dezenas de horas, que faltaram aos candidatos, mas que foram entregues às vontades e às apreciações de ilustres comentadores.
Esses debates onde se procurou que tudo fosse matéria de discussão menos as questões fundamentais e os problemas centrais que precisam de resposta. Onde tudo fizeram para que ficassem fora das televisões os salários, o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública, a habitação, a cultura, a produção nacional e os MPME, a agricultura e as pescas, a indústria, o trabalho e os trabalhadores.
Questões centrais que só a CDU não abdicou de colocar em cima da mesa. Só a CDU não abdicou de trazer os problemas reais da vida e as soluções para a vida melhor a que temos direito.
É abismal a diferença entre os temas em debate e a vida das pessoas. É de sublinhar o alinhamento de, praticamente, todos com a agenda da bolha mediática e o brutal afastamento do dia-a-dia, da realidade, dos milhões que cá vivem e trabalham no nosso País.
Essa bolha que quis, e que pelos vistos quer, que se fale muito da forma e pouco do conteúdo. Percebemos bem por quê.
Tanto malabarismo, tanta conversa, porque a única coisa que têm para apresentar aos trabalhadores e ao povo ou é a continuação da experiência dos últimos dois anos da maioria absoluta do PS, com os resultados que estão à vista; ou a receita de PSD, CDS, Chega e IL de regresso ao passado: o regresso aos tempos sombrios da Troika, a esses tempos dos cortes e do retrocesso.
São estas as opções que têm para apresentar.
Querem fugir ao que lhes dói. Gostariam e queriam que alinhássemos todos pelo mesmo diapasão, mas não contaram, não contam, nem contarão com a CDU para engrossar esse cada vez maior desfasamento entre o discurso político e a vida das pessoas.
Na nossa campanha os problemas e as soluções que se impõem para os enfrentar, não ficam para segundo plano.
E cada vez são mais os que dão razão às nossas propostas, perante as injustiças e as desigualdades que vão vendo e sentido na pele, todos os dias. Não, na nossa campanha não desistimos de denunciar os problemas e não toleramos a injustiça e o contraste entre os lucros dos grupos económicos e das multinacionais, e os baixos salários, reformas e pensões.
Para a CDU não é normal que um punhado de privilegiados ponha ao bolso, todos os dias, 25 milhões de euros de lucros enquanto a imensa maioria se vê, a cada dia que passa, mais apertada.
Na CDU não aceitamos o sacrifício dos serviços públicos, nem trocamos as respostas que são urgentes para garantir o direito à habitação, à creche, ao médico, ao professor, ao aumento significativo dos salários, das reformas e das pensões, por conversa fiada em nome das imposições do Euro e da União Europeia.
Na CDU somos claros: a privatização de empresas e sectores estratégicos; a venda do País ao capital estrangeiro e o agravamento da nossa dependência externa é um crime político e económico contra o nosso direito ao desenvolvimento. Um crime do qual beneficiam uns poucos em prejuízo da maioria.
Na CDU a luta dos trabalhadores não é coisa do passado. Isso gostariam eles. Gostariam que os trabalhadores se resignassem ao roubo dos direitos, aos baixos salários, aos horários desregulados. São lutas do presente, lutas pelo futuro a que temos direito.
Na CDU os trabalhadores dos têxteis e do calçado, vítimas dos baixos salários e que diariamente veem o seu direito ao trabalho posto em causa, não são coisa do passado. Os trabalhadores da Portway e da SPdH/Groundforce que têm um salário base abaixo do salário mínimo e são massacrados com horas extra todos os dias não são coisa do passado. Assim como não é passado a extrema precaridade em que estão milhões de trabalhadores, nomeadamente os das plataformas digitais.
Aqui não há dúvidas: a um posto de trabalho permanente tem que corresponder um contrato de trabalho efectivo.
Coisa do passado é a discriminação salarial crescente entre homens e mulheres trabalhadoras. Isso, sim, é do passado e é preciso de uma vez por todas acabar com ela.
O direito a pescar e a trabalhar a terra, para vencermos o gravíssimo défice alimentar do País, não é coisa do passado. Infelizmente podíamos dar milhares de exemplos destes.
Não abdicamos de afirmar e não desistimos dessa que é a mais actual exigência: o aumento significativo dos salários. A riqueza está criada, os trabalhadores já criaram os meios e os recursos mais do que suficientes para aumentos de 15% não inferiores a 150€.
Não nos arrastam para a falsa questão de se é ou não é possível. Não só é possível, como é urgente e é fundamental para cada um e para o próprio desenvolvimento económico do País.
É preciso garantir que uma parte maior da riqueza que os trabalhadores criaram fica com eles e não vai para continuar a engordar rendas, lucros e dividendos.
Será que somos nós que estamos a ver mal? Seremos nós que estamos fora da realidade e não há uma brutal injustiça na distribuição da riqueza criada? Estarão a ver bem os que afirmam que o aumento dos salários é coisa para 2028 ou 2030?
Quem fala assim, está mais que visto, não enfrenta as dificuldades de todos os dias e não lhes falta salário para um mês cada vez maior.
Ganhámos a batalha “teórica” dos salários. Ninguém hoje se atreve a dizer que os salários são altos. É preciso agora, com a luta dos trabalhadores e o reforço eleitoral da CDU, dar o passo que se exige: o aumento imediato e significativo dos salários, porque é agora que faz falta.
E quando falamos de salário falamos mesmo de aumentos de salário, todos os meses. Não confundimos salário com rendimentos.
Aumentar salários é isso mesmo. Não são borlas fiscais ao patronato, nem a destruição da Segurança Social, nem taxas únicas que só beneficiam os mais ricos, nem prémios que podem nunca vir. Isto não é futuro, isto é, aliás, muito velho e muito gasto.
Na CDU não abdicamos em aumentar todas as reformas e pensões em 7,5% e no mínimo em 70€ . E não nos venham dizer que garantir respeito e dignidade a quem trabalhou uma vida inteira é coisa do passado.
O futuro não pode ser o “salve-se quem puder”. Na CDU o direito à estabilidade na vida pessoal e profissional não está fora de moda. Não nos resignamos com o alagamento desenfreado do trabalho nocturno, por turnos, e em laboração contínua.
Não aceitamos que os pais não possam participar no crescimento dos seus filhos. Isto sim, é coisa do passado.
O Futuro é o que propomos: cumprir os direitos das crianças e dos pais; assegurar o acesso à creche gratuita; assegurar e alargar os direitos de maternidade e paternidade; conquistar as 35 horas e tempo para viver.
Na CDU defendemos a Escola Pública. E, nesta escola, não cabem os “cheque ensino”. Só a Escola Pública defende e pratica a liberdade, e não a falsa e hipotética liberdade de escolha. Sim, a liberdade da formação integral do individuo, a liberdade de uma escola onde não faltam professores nem assistentes operacionais, com profissionais respeitados e valorizados.
Na CDU defendemos esse direito novo, tão novo como o texto da Constituição, o direito de todos a ter uma Habitação digna. Não aceitamos a especulação imobiliária e a manutenção da lei dos despejos; não nos conformamos com os astronómicos lucros da banca enquanto cada um de nós vive apertado pelo aumento da prestação da casa.
Na CDU a Cultura é um desígnio central e uma componente fundamental da democracia. Sem Cultura não há democracia e a democracia exige respeito e meios para quem produz a cultura e a criação de condições para quem quer fruir dessa criação cultural.
Na CDU não há uma Justiça para ricos e outra para pobres. Lutamos pelo fim das custas judiciais, pelo direito de todos a recorrer aos tribunais sempre que for preciso defender os seus direitos e isso só será possível com a valorização dos trabalhadores da justiça. Lutamos contra a promiscuidade entre o poder político e o poder económico, essa sim, é o grande foco da corrupção.
Aqui, na CDU, estão os que defendem com coragem o Serviço Nacional de Saúde: o único instrumento que temos para garantir a todos o direito à saúde.
Sabemos que os incomoda muito quando denunciamos que metade do orçamento do SNS é transferido para o negócio privado da doença. Mas aqui, o nosso único incómodo é com a falta de respeito pelos profissionais da saúde, com a falta de médicos, enfermeiros e técnicos. O que nos incomoda são os 1 milhão e 770 mil utentes sem médico de família e as listas de espera.
O que nos incomoda é o PS afirmar que o caminho a seguir é o que está em curso e o PSD, CDS, Chega e IL proporem que, face às dificuldades reais que existem, a solução é dar a machada final ao SNS. Mas, os profissionais, os utentes e a força da CDU irão salvar o SNS.
Também os incomoda que afirmemos que os profissionais das Forças e Serviços de Segurança e os militares das Forças Armadas merecem uma vida digna e condições de trabalho; que merecem a valorização das suas carreiras e respeito por parte de quem governa.
Não nos perdoam por afirmarmos que o interior não está condenado ao abandono e que o os jovens podem ter futuro nas suas terras.
É possível viver melhor na nossa terra.
Não alinhamos no argumento de que há poucas pessoas para justificar o encerramento de serviços públicos. Não, o que é preciso é acabar com esta “pescadinha de rabo na boca” e, de uma vez por todas, investir nos serviços públicos para atrair população. Esta é que é a solução.
Na CDU não desistimos de pôr o País a produzir. É possível produzir cá mais para importar menos.
Não aceitamos as amarras que travam o nosso desenvolvimento, que nos tornam mais dependentes do exterior e nos roubam a capacidade de dar resposta aos problemas do povo e do País.
Essas amarras dos grupos económicos, como demonstra o encerramento da Refinaria de Matosinhos. Essas amarras da União Europeia, como é o caso da PAC e os seus apoios para a não produção. O que faz falta à agricultura e ao País são apoios para produzir mais.
São amarras a perda da soberania monetária, que parece que ninguém quer discutir, exactamente para tentar esconder as consequências que se conheceram durante o Pacto de Agressão das Troikas ou agora com o brutal agravamento das taxas de juro decretadas pelo BCE.
As amarras são tantas que a própria UE se atreve a querer condicionar o futuro da TAP, incentivando a sua privatização.
E como se não bastasse aí está uma nova Directiva que dá plenos poderes à Comissão Europeia, condicionando ainda mais a decisão soberana de países como Portugal, impondo-nos ritmos para a redução da dívida, através de “novas reformas estruturais”.
E qual é a tradução de todo este palavreado?
Mais aperto sobre a despesa pública para as funções sociais do Estado, menos investimento, mais cortes nos serviços públicos, mais privatizações e novos ataques ao direito do trabalho e à protecção social.
O drama é que perante estas amarras, PS, PSD, CDS, Chega, IL, mas também outros, consideram que, o que há a fazer não é desamarrar, mas, sim, apertar o nó.
Não nos perdoam porque não abdicamos de defender o que é justo, porque não cedemos a facilitismos e porque falamos com clareza.
Aqui estão largas centenas de activistas da CDU, uns mais, outros menos, mas todos estamos no contacto e a construir o resultado da CDU. Com muita conversa, muito esclarecimento, muita coisa dita e muita ouvida.
Estamos nas ruas, à porta das empresas e locais de trabalho, nos serviços públicos junto dos utentes e nas escolas e todos aqui sabem que há um fosso enorme entre os chamados estudos de opinião e sondagens, e o resultado desses mesmos contactos.
O que nos dizem os trabalhadores, os reformados, os jovens, os agricultores e pescadores, os micro, pequenos e médios empresários; as mulheres, os utentes dos serviços públicos e todos com quem falamos? O que nos dizem é que a CDU faz muita falta e cada vez mais falta.
E é por isso, que ao contrário do que nos vendem, a CDU está a crescer e a alargar também aqui no Distrito do Porto.
Foi isso que sentimos nas ruas de Ermesinde, mesmo sob uma chuva imensa; é isso que demonstram os vários abaixo-assinado de apoio à CDU, a correr nas empresas e locais de trabalho,
como é o caso da Ficocables e da AAPICO, mas de muitos outros locais de trabalho, foi isso que se viu e sentiu naquela extraordinária iniciativa sobre a cultura na qual tive o privilégio de participar aqui na cidade do Porto. E se dúvidas ainda houvesse, olhem para esta sala, olhem para esta força, olhem para esta determinação em levar por diante a vida melhor a que todos e cada um tem direito.
As sondagens que vão surgindo querem-nos mandar para baixo. Percebemos o objectivo dessa operação. Mais uma vez, querem centrar a discussão na bipolarização e arrumar para um canto a força mais consequente.
Sabemos o que querem. Querem condicionar muito agora e acertar pouco mais tarde. Mas, esta operação tem que nos dar ainda mais força e mais vontade de falar com mais gente, mais força para mobilizar os que sabem, sentem e precisam de uma CDU mais forte.
E é isso que temos de continuar a fazer e com mais intensidade ainda. Há muita gente que ainda não sabe que irá votar na CDU, e que só irá fazê-lo se formos ao contacto, à conversa, ao esclarecimento.
Este é um trabalho que depende de todos nós. Os que estão indecisos e ainda não decidiram o seu voto; os que que estão inclinados a votar noutros partidos, mas que podem e vão mudar de ideias; os que estão cansados e sem perspectiva, perante tudo o que vão vendo; os descontentes; os que não vêem importância no seu voto; os que desconhecem que serão tão mais fortes quanto mais unidos estiverem; os que acham que não há alternativa e que estamos condenados a não sair da cepa torta, têm de confiar o seu voto à CDU. Não desistamos de nenhum deles.
É também por eles que lutamos. Será também com eles que construiremos a alternativa. Aproveitemos a oportunidade, não descansemos, não deixemos uma única conversa por fazer.
Aqui está a CDU, a força de palavra que diz o que faz e faz o que diz, a força da coerência que não muda de opinião conforme o vento, que quando é preciso dizer sim, diz sim, e quando é preciso dizer não, diz não.
O voto por uma mais justa redistribuição da riqueza, pelo firme combate às injustiças e desigualdades. O voto que já tem provas dadas e que não desperdiça nenhuma oportunidade para aumentar salários e pensões; pelo direito à Saúde e ao SNS; pelo direito à Educação e à Escola Pública, pelo direito à habitação.
Deputados para defender os interesses do BCE, da UE, da NATO, dos banqueiros, já há muitos, já há demasiados.
A CDU é o porto seguro. É uma força que não se deixa condicionar ou amedrontar por maiores que sejam as campanhas. É uma força comprometida com os valores e ideias de Abril: é a força de Abril.
É a força que tem a experiência no combate à direita, demore o tempo que demorar o combate e tenha ela as formas que tiver.
A força que tem soluções e projecto para o País, que não se resigna e toma a iniciativa para a resolução dos problemas nacionais.
A CDU é a garantia dos trabalhadores, do povo dos democratas e dos patriotas. É o voto que, para além de útil, é necessário para os que cá vivem e trabalham.
A CDU faz falta e cada vez mais falta. Vamos ao trabalho porque se há coisa da qual não temos receio é do trabalho.
Viva a Juventude!
Viva a CDU!