O acordo divulgado pelo Governo que concretiza a privatização da EFACEC é revelador do carácter desastroso da política económica que está em curso, onde se insere esta operação contra os interesses nacionais.
1. - Depois de terem sido investidos centenas de milhões de euros de recursos públicos para salvar a EFACEC dos impactos da guerrilha accionista em que estava mergulhada, o Governo vem anunciar que entregará a empresa ao fundo de investimento alemão Mutares, mais 200 milhões de euros que ainda serão investidos pelo Estado, a troco de nada.
O fundo de investimento alemão receberá assim, de mão beijada (o pouco que investe é em capital da empresa que compra), uma das principais empresas industriais portuguesas, capitalizada, com crédito e garantias, trabalhadores altamente qualificados, capacidade de investigação, líder em vários segmentos de mercado e com encomendas de centenas de milhões de euros em carteira.
Para o PCP a privatização da EFACEC é um crime contra os interesses nacionais.
2.- Como todas as privatizações, esta é também uma decisão opaca, feita nas costas dos trabalhadores da empresa e do povo português. Uma decisão que foi preparada ao longo de meses, com o Governo a manter os administradores designados pelos accionistas privados e que contou com o envolvimento e patrocínio da Comissão Europeia e da DGComp, sempre empenhadas numa cada vez maior concentração de capital, designadamente o grande capital alemão.
Ao contrário do que diz o Governo, não é a privatização que garante o futuro da EFACEC e muito menos o seu papel na economia nacional. Se a EFACEC hoje existe é porque houve intervenção pública, é porque a empresa foi nacionalizada. Se dependesse dos accionistas privados e da banca teria sido destruída em 2020/2021.
Entregar a EFACEC ao grande capital estrangeiro não garante nem o futuro da empresa, nem o seu papel estratégico na economia nacional, nem os postos de trabalho e direitos, nem sequer o retorno do que o País investiu (aspecto que as promessas de recebimento pelo Estado de 75% dos dividendos ou de dois terços de venda futura não garantem). Garante, isso sim, que a riqueza produzida pela EFACEC não ficará no País e que o seu futuro estará sempre subordinado, não aos interesses de Portugal, mas aos do grande capital estrangeiro.
3.- O que esta decisão confirma uma vez mais é que a política económica do Governo PS é a mesma política económica do PSD, CDS, Chega e IL. É a política dos interesses e da submissão ao grande capital. É a política das privatizações. De destruição de capacidade produtiva. De submissão à UE e ao Euro. De transferência de milhares de milhões de euros de recursos públicos em benefícios e perdões fiscais, fundos comunitários e apoios públicos.
Uma política errada, que produz injustiças e desperdiça as potencialidades que o País tem.
4.- Há outro caminho para a EFACEC. Portugal precisa e tem direito a produzir e a desenvolver-se e a apostar em indústrias e sectores altamente qualificados que gerem maior valor acrescentado e emprego de qualidade em benefício do bem-estar de todo o povo português.
Em vez da privatização, o que se impunha era a integração da EFACEC no sector empresarial do Estado. Criar as condições de investimento e gestão para o seu desenvolvimento, valorizar os seus trabalhadores, aprofundar o seu papel na indústria nacional, inseri-la numa estratégia de diversificação da actividade económica do País e das relações com o exterior, contribuindo para o desenvolvimento da base científica e tecnológica nacional.
O PCP reafirma que continuará a denunciar e a combater esta privatização e, nesse sentido, já requereu ao Governo por via do seu Grupo Parlamentar toda a informação relativa a esta operação.