...um caso típico aqui nos jornais do Porto...

oscar 10“…um caso típico aqui nos jornais do Porto era o Casais Monteiro. O Adolfo Casais Monteiro não se podia mencionar. Apenas se podia mencionar A.C.M.! Assim como houve ocasiões em que não se podia falar no Bernardo Santareno, na Sophia de Melo Breyner, no Mário Sacramento, quer dizer: dependia dessas pessoas se tornarem mais ou menos notórias por qualquer atitude que tivessem tomado.


Portanto, o facto de me obrigarem a usar um pseudónimo não foi uma perseguição maior do que a que fizeram a tantos outros. Parece-me é particularmente absurda. Assim como era absurdo não me deixarem sair do país. Eu fiz parte de júris internacionais de literatura, mas numa ocasião aconteceu isso. Eu devia ir para uma reunião em Corfu, na Grécia, fazer parte de um júri internacional, e, excepcionalmente, obtive passaporte, autorização, visto que era funcionário público tinha de obter autorização do Ministério, declaração de pagamento das passagens, etc. Fui, entrei no avião, e já dentro dele chamaram-me. O avião esperou uma data de tempo, tiveram de tirar as malas e nunca me deram qualquer explicação. Isto é profundamente estúpido, até porque no avião iam membros desse júri, a quem eu entreguei o texto que ia ler lá. E tornou-se numa coisa muito mais espectacular do que se estivesse estado presente. Estas coisas vistas à distância têm um ar caricato, mas caracterizam uma época”

Santos, José da Cruz (coord); Óscar Lopes - Um homem maior do que o seu tempo; 2007, Edição Câmara Municipal de Matosinhos (pág. 36, 37)